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Meno review

Posted : 2 years ago on 11 April 2022 10:49 (A review of Meno)

Menon de Platão: Trata-se de um diálogo de Sócrates transcrito por Platão, sendo o mais curto dos diálogos de Sócrates contendo em torno de 30 páginas. Em Menon, Sócrates discute com seu amigo Mênon a respeito da definição de virtude, Sócrates diz não saber o que é a virtude dizendo que não conhece ninguém que também o conheça, sendo amplamente contra o pensamento sofista de relativizar e impressionar as pessoas através da retórica, Sócrates afirma que era impossível ensinar a virtude, virtude que em grego "aretê" significando "excelência" seria segundo as definições prévias, as características separadas de uma espécie e gênero, sendo por exemplo, a virtude de uma boa faca, o corte, a virtude de um bom arqueiro, a precisão e assim por diante. Basicamente, a virtude seria a capacidade de algo realizar a sua função da melhor maneira possível, o problema surge quando Sócrates nega essa definição, definição dada por Mênon, e explica que Mênon havia explicando as várias instâncias da virtude mas não a virtude em si, seu significado próprio separado, é então que Mênon explica que a virtude "é a habilidade de governar pessoas" no caso a virtude seria, no contexto grego, uma espécie de motor que dirige as pessoas para o propósito, a excelência puramente, o que estaria intimamente ligado ao indivíduo e a sua busca por felicidade, prazer e satisfação, sendo a virtude as características que nos levam a chegar ao poder para governar as pessoas.

Sócrates após ouvir essa definição nega e explica que a habilidade de governar pessoas somente é boa se for ela for justa, todavia a justiça é apenas uma parte das várias virtudes, o problema da definição de Mênon consiste justamente em tentar definir o conceito de virtude pelas suas instâncias. O questionamento fica mais claro quando Sócrates explica através de uma analogia que o conceito de forma não pode ser definido a partir de uma definição de círculos ou quadrados, formas seriam justamente o que essas figuras compartilham entre si, logo forma não é quadrado ou círculo isoladamente, essa é a característica que compartilham entre si. Logo então é definido que forma é "aquilo que é aprendido pelas cores" sendo assim, Mênon novamente tenta explicar que "a virtude é o desejo de ter e adquirir, aquilo que é belo e bom" mas novamente Mênon é refutado através do seguinte raciocínio "se todos desejamos aquilo que é bom, logo as pessoas diferem conquanto sua habilidade de adquirir as coisas que elas consideram belas e boas" no entanto, todavia, contudo é possível querer e conseguir as coisas boas através de métodos maus e injustos, uma pessoa virtuosa não se utilizaria do mal para conseguir os benefícios.

Se tudo que é bom é virtuoso então a pessoa que é boa é a que age de maneira virtuosa, logo voltamos ao início cometendo o mesmo erro de reafirmar o conceito que já foi estabelecido antes, uma tautologia, um exemplo seria "azul é de cor azul" logo o que ela define já está definido, sendo essa uma discussão inútil para o caso. Mênon então desiste do debate e assume que o que aprendeu com os sofistas estava errado, causando uma "aporia" um estado de perplexidade onde o indivíduo começa a duvidar dos próprios conhecimentos, sendo descrito por Sócratres como o primeiro estágio do conhecimento. "Ou nós sabemos de algo ou não sabemos, se sabemos nós não precisamos procurar sobre. Entretanto, se nós não sabemos, não é possível nós procurarmos sobre uma vez que, nós não saberemos o que estamos procurando e nem iremos reconhecê-lo se nós acabarmos achando aquilo que procuramos" um paradoxo, no entanto é mais que um paradoxo, é um sofisma já que o sofisma é justamente uma ferramenta retórica usada para convencer e chamar a atenção das pessoas para os debates, em geral os sofismas possuem uma estrutura lógica inconsistente, uma conclusão falsa e erros facilmente notados.

Respondendo ao paradoxo, nem todos possuem o conhecimento sobre determinado objeto, da mesma forma, ninguém possuem nenhum conhecimento sobre qualquer coisa, sendo assim, mesmo que uma pessoa saiba de algo, nada impede que ela busque saber mais sobre aquele algo, mesmo que ela tenha conhecimento mínimo do algo, ela sabe reconhecer o que é o algo, logo todos reconhecemos o que queremos aprender. Segundo Sócrates, aprendemos as coisas de acordo com nossas experiências em vidas passadas, com a alma navegando em vários corpos adquirindo experiências e conhecimentos de várias vidas anteriores já sabendo de tudo, necessitando apenas de pequenos estímulos para relembrar. Sócrates então finaliza dizendo que a virtude é benéfica mas que só pode ser plena se for acompanhada de conhecimento e sabedoria, por exemplo, a coragem é uma virtude, mas em mãos erradas ela não passa de imprudência, de modo que a virtude é uma forma de conhecimento, ensinável. Mas ai decorre um erro lógico reconhecido pelo próprio Sócrates "se a virtude é um conhecimento e todo conhecimento pode ser ensinável então onde estão os professores da virtude?". Um colega de Sócrates responde que para se aprender a virtude deveríamos pedir conselhos aos mais velhos, no entanto Sócrates cita vários exemplos de pessoas virtuosas que não ensinaram bem seus filhos.

"Todos nós podemos ter ou não conhecimentos de botânica, no entanto todos nós podemos cultivar plantas em nossos quintais, tudo dependerá da sorte das pessoas, para ter certeza que a planta dará certo seria necessário conhecimentos em botânica, no entanto algumas pessoas não necessitam disso para brotar plantas no quintal, logo seria a virtude igual, algo que se tem por vezes com a intuição e por vezes com a sabedoria, sendo difícil a quem conseguiu brotar uma flor em seu quintal, ensinar como que se cultiva" sendo algo intuitivo a virtude segundo Sócrates seria "um presente dado pelos deuses" simplesmente uma ideia de determinismo teológico, que abre um leque de questionamentos.


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The Brothers Karamazov review

Posted : 2 years ago on 8 April 2022 05:29 (A review of The Brothers Karamazov )

Irmãos Karamazov, um dos mais importantes livros da literatura mundial e um dos mais complexos de Dostoyevsky, sendo literalmente seu último trabalho antes de morrer, abordando temas variados como a moralidade, existência de Deus, hereditariedade, livre arbítrio e temas realmente controversos, tais como determinismo social e psicológico. O livro é gigantesco e dividido em várias partes, tendo quase 800 páginas, não é um livro fácil de ler pelo tamanho e conteúdo, não que seja lírico e cheio de simbolismos mas sim por ser autenticamente um livro denso de conteúdo filosófico e político. Dostoyevsky é bastante conhecido por suas obras psicológicas e políticas que estão constantemente desafiando o status quo e as ideias conformistas e fantasiosas que hoje se tornaram comuns, ideias como igualitarismo, niilismo, ateísmo e socialismo que seriam decisivos para a Rússia no seguinte século após a morte de Dostoyevsky. Está claro que Dostoyevsky não gosta de ideias escapistas e possui uma filosofia de que o mundo, apesar de suas incoerências e contradições, deve ser vivido e que se deve haver uma ordem moral para que a sociedade não se degenere e seja consumida por abominações. Tristemente tudo que Dostoyevsky alertava em seus livros veio a torna-se realidade, a depressão se tornou uma moda, o suicídio é quase que glorificado e ideias de igualdade se transformaram em uma verdadeira religião moderna, tudo o que o russo temia virou realidade não apenas para a Rússia mas para todo o mundo.

Parando de rodeios, de que diabos se trata Irmãos Karamazov? Trata-se de uma novela sobre uma família totalmente desajustada e problemática, com o patriarca Fyodor Karamazov, sendo um promíscuo degenerado, ateu e devasso, que possui 4 filhos oriundos de casamentos diferentes, com Dimitri Karamazov sendo o mais colérico, ciumento e igualmente promíscuo e devasso tal como seu pai, sendo este seu maior inimigo como veremos, temos também Ivan Karamazov, que diferente de Dimitri, é mais calmo, coerente e eloquente, sendo o gênio e a mente por trás de grande parte dos eventos do livro, sendo ateu e professando a ideia de que se "não há Deus, logo tudo é permitido", temos também Alyosha, ou Alexiei, um rapaz bondoso, gentil e o único filho cristão de Fyodor, Alyosha é a mente conciliadora da família, por fim, temos também Smerdyakov Pavel, um epiléptico ranzinza e amargurado que carrega boa parte da genética ruim de Fyodor, sendo Smerdyakov oriundo de um estupro, quando Fyodor abusou de uma mendiga deficiente e surgiu ele. Fora os Karamazov há os personagens secundários que possuem papel importante na história, sendo os mais destacáveis; Starietz Zósima, um padre e mentor de Alyosha, o qual serve mais para reiterar a filosofia cristã de Dostoyevsky, passando uma visão do cristianismo que realmente não deves ignorar, temos Grushenka e Katya, duas figuras que estão ai para irritar, sendo Grushenka uma promíscua e degenerada, algo repetitivo de dizer.

Todos os personagens são explorados de forma direta ou indireta pelo autor, com alguns contando com diálogos, monólogos e notas extensas explicando e detalhando o pensamento e a psicologia de cada um, alguns obviamente são mais bem aproveitados e explorados que outros, mas diria que todos os personagens possuem transfundos interessantes, sendo todos bem redondos no quesito de exploração temática. Vejamos pois, os principais(Fyodor, Alyosha, Ivan, Dimitri) são explorados não apenas psicologicamente, como ideologicamente, o autor vai fundo na mente de cada personagem de forma que sintas empatia mesmo pelos piores personagens possíveis. Começando por Fyodor, um velho devasso e promíscuo que ficou financeiramente estável após vários casamentos que terminaram em mortes prematuras de cada uma de suas esposas, seu personagem é vil e desprezível, o ponto de sua caracterização é mostrar os efeitos gerados de uma mentalidade conformista, hedonista e voltada para os prazeres, ai está o ponto chave dessa obra, demonstrar o quão mau está essa mentalidade de "Deus não existe então regras não fazem sentido" que está ok beber, bater nos filhos e ser uma pessoa de merda apenas porque "muh, não existe moral e disciplina é fascismo" esse tipo de mentalidade, que antes era condenado na literatura é hoje promovido com algo bom pelos meios globo homo(leia minha resenha de Turning red).

Irmãos Karamazov não é uma obra escapista que passa a mão na cabeça para as cagadas que fazemos, pelo contrário, nos mostra as consequências reais disso, quantas pessoas por ai não sofrem por causa de pais alcóolatras e devassos, mostrando como isso afeta não só o indivíduo como todos ao seu redor, com a displicência de Fyodor refletindo diretamente em Dimitri, Ivan e Smerdyakov. Ivan é um caso parecido, diferente dos outros filhos ele é inteligente e eloquente, sendo alguém ressentido o qual foi cultivado pelo pai algumas ideias ateias, sendo fortemente influenciado por esse pensamento, o que leva a influenciar Smerdyakov ocasionando toda o problema da segunda parte do livro, basicamente Ivan acaba refletindo em Smerdyakov suas ideias niilistas e destrutivas, refutando essa tese de que a moral é algo subjetivo e que não possui consequências, é justamente pelas ideias deturpadas de Ivan que toda a desgraça é desencadeada. Ao final do livro Ivan compreende e é tomado por um senso de moral, contradizendo suas ideias sobre a moralidade e a religião e POR DIOS o livro deixa claro que não devemos pensar como Ivan, nos mostra as consequências e ainda sim há retardados que romantizam essa visão espúria de amoralidade intencional! Tanto que ao final Ivan percebe que não acredita no que diz e assume ser um ser moral, rejeitando suas ideias antigas. O livro em diversas partes critica a igreja católica e o liberalismo, dizendo que ambos são frutos do iluminismo, algo historicamente incorreto já que o catolicismo precede o iluminismo, algo que não considero um erro já que essa visão é passada através de Ivan, não creio expressamente que Dostoyevksy acreditasse de fato nisso.

Temos por fim Alyosha, um jovem simples e humilde, manso e gentil que serve de figura conciliadora de sua família, sendo igualmente um personagem complexo e de certa forma trágico já que tem que lidar com os cretinos dos seus irmãos ao mesmo tempo que sofre pelos erros dos seus parentes, sendo na maior parte das vezes o mediador dos problemas externos de sua família, um genuíno mártir, já que é necessário uma paciência de Jó para aguentar os cretinos que o cercam. O ponto do personagem de Alyosha é ressaltar a visão cristã de Dostoyevsky mostrando que devemos seguir uma linha de disciplina e amor ao próximo, passando uma visão altruísta e estoica que é ressaltada ainda melhor na figura de Starietz Zósima que ensina várias lições sobre o cristianismo que devem ser meditadas e refletidas por todos "não há pecado que seja maior que o amor de Deus pela humanidade". Referindo-se aos materialistas "os bens materiais aumentaram junto da solidão e da depressão, entre os pobres aumenta a violência e a barbárie". O padre Zósima possui uma filosofia poderosa que diz que "o jejum, a oração e a devoção são os únicos caminhos para a verdadeira liberdade, o domo e o flagelo da vontade egoísta é o que transforma o ser humano em um ser dotado de amor e compaixão" em poucas palavras, viver dos prazeres não é ser livre, mas apenas ser escravo dos desejos efêmeros, nada mais é que puro egoísmo, dando uma mensagem sobre a importância e valor da disciplina, e o amor a Deus. Dostoyevsky passa em sua obra que Deus ao dar o livre arbítrio à humanidade, na realidade estava consagrando um verdadeiro fardo ao homem. Todos somos livres para acreditar ou não em Deus, fazer o bem ou não. Deus deu aos seres humanos a possibilidade de escolher o mal, também nos diz que não faz parte dos planos de Deus realizar milagres e conceder desejos apenas porque alguém assim deseja.

Também é bastante enfatizado a ideia de que "mesmo que sejamos os únicos a crer, devemos continuar a crer" mensagem importante para os tempos modernos. Por fim temos Dimitri Karamazov que em poucas palavras é um bipolar violento, tal como seu pai possui o mesmo vício de ser devasso, gastando dinheiro com coisas inúteis sofrendo por romances quebrados, sendo meio bipolar, variando entre ser muito agressivo e ser muito compassivo, um personagem genuinamente trágico, mostrando que foi fortemente afetado pelo pai, sendo alguém emocionalmente quebrado. Smerdyakov por outro lado é a cópia de seu pai, ranzinza, mesquinho, feio e miserável de espírito, fruto de um estupro de Fyodor a uma mendiga esquizofrênica... Sim... É descrito em parte como um ser desprezível, tendo vários ressentimentos em relação a seu pai, que é somada a sua influência pelas ideias de Ivan que terminam por leva-lo a cometer o ato principal do livro. Smerdyakov é um personagem trágico e triste pela própria natureza de seu personagem, sendo o fruto direto da perversão e mau-caratismo de Fyodor, acaba por herdar os defeitos do pai que tanto odeia, é mau visto pelos outros irmãos por ser doente, nem sequer carrega o nome da família, o que dá um tom mórbido e triste a seu personagem, seu final é igualmente trágico e deprimente. Temos também Grushenka que é uma prostituta que vive na história um triângulo amoroso entre Dimitri e Fyodor, ficando tanto com o pai quanto com o filho, uma relação extremamente freak, sendo tal como seus parceiros, demonstrando alguns sinais de narcisismo e bipolaridade, igualmente depresível.


A história inicia narrando o passado da família Karamazov caracterizando os personagens até a parte onde ocorre uma briga entre Dimitri e Fyodor, Dimitri espanca seu próprio pai por causa de Grushenka, seu pai que estava embriagado é ajudado por Alyosha que acaba sendo afetado na confusão. O suspense começa quando Dimitri, precisando do dinheiro do pai para se casar com Grushenka, acaba roubando o próprio pai que termina sendo assassinado durante seu roubo, depois de uns dias Dimitri é imediatamente cooptado pela polícia sendo apontado como principal suspeito pelo crime. Mesmo sendo inocente, acaba se contradizendo várias vezes no interrogatório devido ao nervosismo e termina como culpado pelo crime sendo condenado a prisão na Sibéria, seu irmão Ivan então passa a investigar o caso e descobre que o assassino na verdade era Smerdyakov, no entanto o mesmo diz que cometeu o crime por influência das ideias de Ivan sobre a moral, Ivan entra em pânico e delira e passa o restante dos dias antes do julgamento delirando, conversando com uma entidade que parece ser o diabo, Ivan dialoga com a criatura compreendendo que suas ideias causaram a morte de seu pai e que no fundo ele era um ser totalmente moral e que aquilo lhe incomodava muito. A ideologia de Ivan é algo parecido com que Nietzsche explorava em seus livros, sobre elevar a natureza do homem, no entanto essa mesma ideia terminou criando em Ivan um certo ódio contra a humanidade. Temos também o poema de Ivan, que dá uma análise isolada pela quantidade de temas e implicações que possui. O livro então termina com Dimitri sendo ajudado por Ivan a fugir para a América, Smerdyakov se suicida e o livro termina com o velório de um menino que era amigo de Alyosha.

O livro possui muitas mensagens sutis sobre o livre arbítrio, sobre a moralidade, sobre o amor, sobre o cristianismo, sobre as consequências de nossos atos, sobre niilismo, socialismo, igualitarismo, catolicismo e uma verdadeira gama de questionamentos e temas que dariam livros por si só. No entanto diria que a obra é mais que isso e nos passa lições valiosas e nos joga na cara uma realidade incômoda, com o livro constantemente ressaltando as misérias e problemas que sofrem os personagens, sendo um livro amargo de ler em algumas partes, não é sobre escapismo ou sobre histórias bonitinhas, diferente das obras modernas, não romantiza os maus hábitos e valoriza a disciplina, o amor a Deus e ao próximo, mostrando como essas ideias de amoralidade são destrutivas e levam o ser humano à ruína, gosto da mensagem, gosto dos temas envolvidos, gosto da exploração psicológicas dos personagens, o que cada um deles representa, de modo que seria Irmãos Karamazov, o último livro de Dostoyevksy, uma obra prima absoluta? No, infelizmente o livro não é perfeito, é demasiado longo, não, é desnecessariamente longo e até maçante em vários momentos, coisas que estão apenas para alargar ainda mais o livro, a parte do julgamento por exemplo, é excessivamente longa e desinteressante para prender atenção. Também acho que o final foi medíocre, não deu uma conclusão satisfatória para Alyosha ou mesmo Ivan, sendo sincero gostaria que o autor quitasse toda as partes de investigação e se concentrasse apenas na psicologia de Ivan e que desse um final melhor a Alyosha.

E querem saber? O livro é fantástico! Apesar desses erros que mencionei o livro conta com vários personagens sumamente realistas e bem escritos, uma das melhores histórias que li, para quem leu e gostou de coisas como 100 anos de solidão, certamente irá gostar de Irmãos Karamazov, de modo que a nota segue:

ESCRITA:8/10(competente)
PERSONAGENS:9/10(seria 10 se não fosse pelo final)

TEMAS ABORDADOS:10/10(rico em temas filosóficos, políticos e religiosos, sendo referência para o estudo de questões morais e etc)

ENREDO E DESENVOLVIMENTO:8/10(a primeira parte tem um dos estudos de personagem mais profundos que eu já vi, no entanto a segunda parte não supera)

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA:10/10(última obra do autor e com mais temas envolvidos)

NOTA CALCULADA:8+9+10+10+8/5=9

NOTA FINAL:9/10

PRÓS: excelentes personagens, abordagem de temas filosóficos, entretido

CONTRAS: excessivamente detalhista, coisa que pode deixar maçante algumas partes, final fraco para Alyosha


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Apology review

Posted : 2 years, 1 month ago on 27 March 2022 04:47 (A review of Apology)

A Apologia de Sócrates é um dos textos mais famosos de Platão, um dos mais antigos textos sobre direito que existem. No livro, Sócrates elabora então uma defesa para si próprio onde defende que não era um sofista, nem um degenerado como havia sido acusado. Bueno a primeira questão interessante sobre o livro é sobre como pensar diferente da maioria pode trazer consequências e problemas, estamos em um tempo onde a liberdade de expressão ou mesmo a liberdade de ir e vir estão ameaçadas, não pela força do Estado mas pelas próprias pessoas que defendem o fim da liberdade de pensamento. Veja a cultura do cancelamento por exemplo, querer destruir uma pessoa, simplesmente por dizer algo inconveniente a respeito de suas ideologias vitimistas se tornou literalmente um crime. Aqui podemos traçar um paralelismo com a situação de Sócrates, preso por pensar demais, é óbvio que a tirania dos tempos modernos é superior a dos tempos gregos.

De modo que a obra está estruturada de forma a refutar os argumentos dos detratores de Sócrates, como obra isolada é um estudo obrigatório por ser um dos mais antigos textos de direito que existem. “réu de haver-se ocupado de assuntos que não eram de sua alçada, investigando o que existe embaixo da terra e no céu, procurando transformar a mentira em verdade e ensinando-as às pessoas” Sócrate é então acusado de sofisma e o mesmo procura refutar essa hipótese através de um elaborado sistema baseado na lógica argumentativa propositiva, indagando questões e apontando certas contradições de seus adversários políticos. A segunda parte engloba Sócrates respondendo sobre se estava diretamente ofendendo os deuses. Sócrates então desmonta os argumentos de Meleto e Ânito dizendo que "não corrompo a juventude, mas se os corrompo é involuntário e em ambos os casos mentiste" utilizando-se dos bons exemplos que o próprio Meleto afirmara serem bons. Os detratores de Sócrates passam a acusa-lo de ser ateu e de adorar demônios, um argumento bastante simples de refutar já que ser ateu precede uma total descrença não só em Deus, mas todos os elementos ou entidades mágicas, adorar demônios necessariamente te faz crer que haja um Deus, o que seria uma contradição em si mesma.

Sócrates consegue provar que estava certo, no entanto se recusa a abdicar de sua profissão de filósofo, preferindo a morte do que negar as suas convicções, aceitando a morte por cicuta(veneno) morrendo como um mártir e finalizando a obra, lembrando os atenienses sobre seu legado e sobre a injustiça que estavam cometendo contra o mesmo. O livro não possui valor literário porque não é literatura mas algo que ocorreu, no que me concerne é um excelente livro a respeito do direito e lhe dá várias informações sobre como desmontar um argumento utilizando a lógica, não é atual pois hoje as coisas não são resolvidas de forma racional mas emocional e bien.

8/10


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Cien Años De Soledad review

Posted : 2 years, 1 month ago on 19 March 2022 12:58 (A review of Cien Años De Soledad)

100 Anos de Solidão um clássico absoluto da literatura latino-americana, escrita pelo romancista colombiano Gabriel Garcia Marquez, conta a trágica história da família dos Buendía que se inicia com a relação incestuosa de Úrsula Iguarán e José Arcádio Buendía. José Arcádio é um homem insensível, frio e em geral distante. Sua relação incestuosa com Úrsula dá frutos,  tendo filhos com José Árcadio, apesar de temer que seus filhos venham ao mundo com alguma deformidade. José Árcadio apesar de ser solitário e frio logra evoluir e desenvolver o povoado onde mora sendo considerado um verdadeiro patriarca. Sua falta de empatia e amor pelos filhos resulta em todo o prosseguimento da história. Levando a desenvolver uma história genuinamente trágica cheia de tristeza, incestos e principalmente solidão. Traço marcante de vários personagens na obra, um livro bem depressivo e cru no sentido de que nos mostra a decadência de uma geração inteira que parecia dar certo ao início mas que falha miseravelmente condenando-os a 100 anos de solidão. Aqui também há uma profecia que conduz a toda a história mas que não é explícita e nem interfere para salvar os protagonistas.

Diferente de algumas obras de tragédia que simplesmente castigam de forma visceral os personagens por razão alguma, como em obras edgy emo, aqui cada tragédia e conclusão tem razão de ser e é aprofundada. Mostrando como os atos de nossos antepassados podem influenciar e danificar gerações inteiras, condenando todos a um sofrimento cíclico que parece não ter fim. Como um sistema cármico que dura para sempre, dando uma mensagem sobre não seguir certos caminhos para evitar arruinar a própria vida e dos descendentes. O que torna impactante é que todos os personagens, como dito anteriormente, possuem razão de serem trágicos já que o livro expande de forma excepcional o drama e a tragédia dos personagens de forma psicológica, mostrando a degradação de José Arcádio, a solidão e a falta de amor de Aureliano, a apatia de Úrsula e etc. Úrsula por exemplo, em sua velhice se dá conta de que o amor e a falta de amor em sua família ocasionou todas as tragédias, sendo uma das poucas personagens que entende o ciclo, sendo a ela quem mais desenvolve amor e afeto pelos outros membros.

José Arcádio por outro lado é alguém mais selvagem e bruto, e que infelizmente se sabe muito pouco sobre sua mudança durante os capítulos, também não entendi muito sobre sua esposa ser uma criança. Bueno passamos para Aureliano Buendía o melhor personagem da obra, cheio de contornos psicológicos e com o melhor desenvolvimento, sendo ele desde jovem alguém solitário e antissocial incapaz de amar ninguém de verdade, vivendo em um ciclo de apatia e tristeza interna, que o leva a guerrear e cometer atrocidades terríveis enquanto milita por uma espécie de revolução liberal no meio de uma guerra civil. Sendo capaz de matar até seus próprios amigos pelos ideais, se enchendo de orgulho e criando um misticismo lendário em torno do seu nome. Se dando conta ao final que toda essa matança não fez sentido, mas que já não podia retroceder pelas circunstâncias sendo renegado a uma vida medíocre que nada fez jus ao legado militar que deixara.

Temos também Amaranta que aparenta possuir problemas mentais, sendo isso apenas um subterfúgio para esconder suas covardias internas, sendo diferente a Aureliano que era incapaz de amar, ela todavia era amava porém era covarde demais para revelar seu amor vivendo um ciclo de autonegação, reduzindo sua vida a gostos extravagantes e um modo cômodo que a livrava de ter certas responsabilidades. O mesmo dilema há em Arcádio, não José Arcádio Buendía, nem José Arcádio, são dois personagens diferentes, eu sei é confuso mas deves ter em conta o nome dos personagens para que não te confundas. Arcádio por outro lado é um tipo que ganhou fama ao tomar o poder abusando e procurando comodidades sendo condenado e se arrependendo no final mostrando que tinha amor por sua família, desejando que o nome de seus filhos sejam os mesmos nomes de familiares seus. Temos os 17 Aurelianos que são filhos do Coronel Aureliano Buendía, frutos de estupros e prostitutas que o mesmo engravidou nos tempos da guerra civil, na verdade nenhum é realmente importante e alguns possuem finais sadistas e deprimentes.

Temos Aureliano José que tem uma relação amorosa com Amaranta(sua tia) fora disso, não tem uma grande caracterização ou se é que tem, já que todo seu personagem é mais uma ferramenta da história para mostrar como Amaranta está emocionalmente quebrada. Temos Pilar Terneira que é uma cigana promíscua que prevê o futuro através das cartas, também não tem grande caracterização sendo mais definida por ser promíscua. Temos Remédios Moscote que tem uma relação de pedofilia com Aureliano, Santa Sofia De La Piedade que não importa já que sabemos nula coisa sobre ela. O restante dos personagens são cíclicos e representam os mesmos problemas emocionais dos personagens anteriores, José Arcádio segundo é igual a Aureliano Buendia e José Arcadio primeiro, está envolvido com a guerra, com revoltas e protestos civís, sendo igualmente um promíscuo hedonista. Aureliano segundo e Petra Cortez são promíscuos impulsivos que bom, não há nada muito de especial fora o fato de que são promíscuos. Por mais que seja repetitivo, esses personagens estão na história com o fim de ressaltar a natureza cíclica dos erros passados de uma geração à outra.

Temos também Fernanda, esposa de Aureliano Segundo que vivia uma vida cômoda cercada por conforto e riquezas, que ao plasmar a vida fútil e vazia de seu marido entra em uma espécie de negação e ressentimento que é sintetizado de forma catártica quando passa por grandes dificuldades econômicas com Aureliano Segundo, xingando-o por ser um gordo acomodado incapaz de reagir aos problemas de seu entorno, inspirando Aureliano José com birras a agir. Temos José Arcádio, filho de Aureliano segundo e Fernanda, sendo um desagradável, insensível e bueno, Renata Remédios está determinada a terminar sozinha com um drama similar a Amaranta. Por fim temos Amaranta Remédios e Aureliano Babilônia que existem para concluir o livro. O problema geral do livro é que algumas tramas se repetem, se repetem de forma proposital para enfatizar a mensagem do livro sobre como estão cometendo os mesmos erros de forma cíclica, ainda sim muitos desses após a primeira geração não são tão complexos ou alguns nem sequer são decentemente caracterizados, fora o fim trágico dos 17 aurelianos.

Ao final Aureliano Babilônia descobre que os escritos de Melquíades eram na verdade previsões, toda a história da família Buendía contada nos pequeninos detalhes justificando o ponto anterior da trivialidade de alguns arcos. O livro é tão complexo que o próprio autor se perdeu, e esqueceu de justificar ou explicar alguns pontos da história como o massacre dos proletários na compania bananeira, por que isso aconteceu e qual é o significado por trás disso? O que o autor quis dizer? Queria enfatizar a opressão governamental dos antigos regimes latino-americanos às rebeliões internas? Pode ser já que o autor pessoalmente possui tendências esquerdistas, mas ainda sim não é explicado o porque nem as repercussões desse massacre. Uma coisa é o livro possuir momentos inúteis de alívio cômico, outra é deixar em branco resoluções de eventos grandes ocorridos dentro da história, fora alguns personagens que parecem estar fora do lugar ou são simplesmente inúteis ou sem propósito como José Arcadio(de Aureliano Segundo e Fernanda).

Apesar de tudo o livro é excelente justamente pelos personagens mais complexos como o primeiro Aureliano, José Arcadio Buendia, Úrsula, Amaranta e etc. É complexo por possuir muitos personagens, literalmente 100 anos compilados em um livro, nos dando uma moral sobre como não devemos agir de forma covarde perante a vida, representado na tragédia de Amaranta. Sobre como não devemos ser frios e apáticos, como representado em Aureliano, sobre como a falta de amor e atenção pode prejudicar uma geração inteira, afinal de conta é sobre isso que o livro fala, é uma tragédia em toda a regra. Dando ênfase no poder de escolha dos seres humanos e sobre como nossas ações podem afetar gerações inteiras, sobre como meros atos podem desencadear uma série de eventos que podem terminar em massacres, guerras ou uma profunda tristeza e solidão. Mostrando consequências e uma linha reta da qual todos devemos seguir ou pelo menos tentar seguir com o fim de gerar virtudes em vez daquilo que o livro apresenta.

Sendo amargo o suficiente para nos mostrar que nossos atos estão cheios de responsabilidade e a forma como vemos e tratamos o mundo pode se refletir em várias gerações, nos dando uma resposta sobre por que há tanta injustiça, sofrimento e falta de empatia no mundo, sendo a falta de atenção de José Arcádio Buendía o que fez Aureliano se tornar frio incapaz de amar desencadeando a guerra civil causando a morte de várias pessoas. Sobre como o comodismo e hedonismo pode prejudicar não só o indivíduo como todos ao seu redor, ocasionando abusos de poder e matanças desnecessárias, inspirando a agir de forma virtuosa. Possui uma moral bonita e diria até cristã, até mais cristã que muitas dessas obras gospel onde todos são ajudados por Deus porque sim e não há consequências porque Plus! "DEUS ESTÁ DO MEU LADO INDEPENDENTE DO QUE FAÇO E NÃO EXISTE CASTIGO OU KARMA". Mostrando também como nossos valores internos são passados pra todos os nossos descendentes porque no final do dia quando a família Buendía finalmente logrou algo significativo para sua linhagem essa mesma carecia de pessoas para ver a continuação dos atos, mostrando também a importância do passado já que como todos tinham esquecido o passado, haviam de cometer os mesmos erros uma e outra vez e não entenderiam o porque dos erros já que não sabiam sua origem. Dando uma mensagem que beira o existencialismo que entraria em temas transcendentais.

Em resumo 100 anos de solidão é um excelente livro com uma mensagem impactante e uma das mais belas que já vi, possui tudo que eu gosto em obras de ficção, tragédia, consequências, personagens psicológicos, mensagens filosóficas e uma gama variada de personagens que transcendem até mesmo gerações, quiçá gostaria que os personagens da segunda parte fossem mais explorados e justificados, ainda sim os bons personagens sustentam a história. A mensagem é fantástica, os personagens(pelo menos da primeira parte) são bons e em geral o livro conta com poucos erros reais tais como não justificar certos acontecimentos ou esquecer de caracterizar certos personagens. Por isso e por muito que considero um excelente livro merecedor de 9/10, merece seu status e todo seu reconhecimento.

Escrita:8/10


personagens principais:10/10


personagens secundários:7/10


importância histórica:8/10


temas explorados:10/10


nota somada:8,6


notal final:9/10(+1 fator pessoal)



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1984 review

Posted : 2 years, 1 month ago on 18 March 2022 04:02 (A review of 1984)

1984 é um livro escrito pelo romancista George Orwell, que narra um futuro onde a humanidade foi dominada parcialmente por um partido totalitário que espiona e doutrina seus cidadãos 24 horas por dia remodelando seus costumes, crenças, modos de agir e até pensamentos. Dentro da história nós é mostrado o personagem de Winston Smith, um homem médio responsável por um dos milhares de departamentos do partido. Winston em seu trabalho encontra Júlia que em um primeiro momento lhe causa a impressão de ser uma espiã do regime, Winston é seguido por Júlia até que descobre que ela possuía interesse romântico por ele, sendo isso estritamente reprimido pelo partido dominante que proíbe as pessoas de se relacionarem por vontade própria.
Winston e Júlia passam a se encontrar frequentemente até que decidem se unir a resistência, a O'Brien que era amigo de trabalho de Winston. O'Brien admite Winston e Júlia a resistência sem eles saberem que o mesmo pertencia a polícia do pensamento, uma espécie de KGB ou Gestapo que serve aos interesses do partido.

O'Brien trai Winston e Júlia e os condena a "inquisição" do partido, basicamente são torturados mental e fisicamente até admitirem a doutrina do Grande Irmão que é uma espécie de socialismo, um sistema de ideias que prega o coletivismo e a idolatria velada ao "Grande Irmão" uma espécie de figura onipotente que estampa o rosto dos cartazes e que aparentemente não existe. 1984 basicamente nos mostra um mundo distópico em toda a regra onde a humanidade perdeu parcialmente suas individualidades, com todos submetidos a um sistema desenhado minuciosamente para minar a liberdade de pensamento. Basicamente muito do que Orwell descreve em seu livro, foi inspirado em textos extraídos de vários relatos das atrocidades cometidas pelo regime soviético de Stalin e da China comunista de Mao. Coisas como rescrever a história, filhos denunciando os próprios pais, guerras e inimigos fabricados pelo próprio governo, espionagem irrestrita da população. Todas essas coisas ocorreram em menor e maior grau na vida real, era comum crianças denunciarem seus próprios pais durante a era stalinista, também era comum destruir registros e documentos históricos durante as revoluções no Leste da Ásia.

O primeiro conceito é de rescrever a história, onde o livro mostra que o IngSoc(partido que controla a Europa) apaga e rescreve conceitos, datas, idiomas e músicas para beneficiar o partido e fazer as pessoas esquecerem do passado, seguindo uma filosofia de que tudo pode ser rescrito. Essa filosofia é explicada na forma da novilíngua, que é basicamente pronome neutro... Um tipo de linguagem que reduz e junta o significado de duas palavras com o fim de reduzir e "melhorar" o entendimento das pessoas. Um exeplo usado no livro é quando Oston amigo de Winston descreve que não é necessário o uso da palavra mau e que bom e mau poderiam significar uma só coisa sem a necessidade de sinônimos ou um sistema complexo de letras. Algo similar com o nosso idioma que é simplificado a cada ano, retirando acentos aqui, letrinhas ali e etc, obviamente que o exemplo do livro é bem mais extremo e cabe questionar, sobre como essa sociedade simplesmente aceitou esse sistema que claramente está imbecilizando essa mesma sociedade? Simplesmente não tem muita coerência e nunca foi aplicado na vida real.

O conceito de reduzir ou rescrever o conceito das palavras e coisas, tem o claro sentido de imbecilizar a população. Coisa que é rebatida pelo próprio livro que diz que a novilíngua só é aplicada a ética, filosofia e literatura, porém como o partido não governa o mundo inteiro nessa história e está constantemente em guerras. O conceito da novilíngua simplesmente não é aplicado na hora de criar bombas, veículos militares e helicópteros. Mais uma vez a realidade se impondo, nos mostrando uma certa estupidez por parte do partido e da própria população, afinal de contas como é possível renegarem a ciência, a física, gravidade e etc tendo como base algo como a novilíngua? É uma falácia que o livro comete ao não explicar como esse sistema pode ser tão avançado tecnologicamente se a população é idiotizada o tempo inteiro? Como funciona as empresas, hospitais e fazendas? Se algo assim é tão fácil de prever como as pessoas não se questionaram? A distopia de Brave New World nesse aspecto é melhor porque mesmo com um governo único governando pelas sombras, ainda sim a ciência não é reprimida. Podem dizer que na vida real é totalmente possível uma ditadura ter uma extensa tecnologia, levando em conta a corrida espacial da URSS versus EUA. Da qual sabemos que muitas das tecnologias desses regimes eram conseguidas através de espionagem. Outro ponto que complementa o anterior é, como é possível que haja avanço tecnológico se nesse mundo as pessoas vivem em um coletivismo total incapazes de progredir? Se todos que se destacam terminam mortos pelo mesmo sistema?

Simplesmente é um sistema tão opressivo e brutal que seria insustentável, e que só poderia ser mantido de baixo de um genocídio em larga escala, até o ponto onde a sociedade se reduzisse a poucas pessoas que se rebelariam contra o partido. Devemos nos lembrar que o ser humano é bem mais complexo que máquinas, coisa que o livro peca ao caracterizar os personagens como branco e negro, rebeldes ou controlados. Não há um meio termo ou mesmo uma resposta ativa da população, seria algo tão absurdo que as pessoas prefeririam morrer a se submeter ao partido. Nesse aspecto também há que se elogiar que Orwell não tenha transformado sua obra em uma fanfic de distopia a lá V de vingança, com lições de moral estúpidas sobre como o "ser humano é uma praga" EDGY!!! O que nos leva a um dos pontos mais divertidos e escatológicos do livro, que é sobre a falsa oposição ou oposição fabricada. Um tipo de conceito pouco explorado em obras de distopia, basicamente é quando o governo seja democrático ou autocrático financia grupos e cria grupos fantoches que servem de oposição para que a população pense que estão presos em algo monocromático sem alternativas. Quantos partidos por ai fingem ser oposição uns aos outros enquanto estão lutando pelos mesmíssimos projetos, leis e ideias. Algo que só é possível de observar se tiver muita atenção, frases como "direita e esquerda são a mesma coisa" ou "PT E PSDB é falsa a oposição entre eles!" são frases que posso não concordar 100% mas servem para fazer um ponto sobre como é fácil manipular e criar falsas oposições, com o fim de descredibilizar causas autênticas.

Outro aspecto interessante do livro é sobre a espionagem irrestrita do partido sobre a população, estabelecendo uma espécie de sistema de recompensas que variam para aqueles que são mais leais ao grande irmão. Algo similar ao sistema de crédito social da atual China, também falando da China, é interessante como o sistema de reconhecimento facial desse país é parecido com as teletelas que monitoram os indivíduos 24 horas por dia. Também existe quem diga que nossos aparelhos virtuais nos monitoram e etc, não é bem uma suspeita já que há vários anos se tem notícias de empresas espionando usuários com fins supostamente de "marketing" o que é estúpido já que ninguém pediu por esse monitoramento. O livro aborda também como as crianças são utilizadas pelo regime como militantes fanáticos, fazendo cada geração ser mais até mais radical que a anterior, filhos denunciando uns aos outros. Algo parecido ocorreu no Camboja durante a ditadura comunista de Pol Pot que separava os jovens dos pais a fim de doutrina-los e treina-los para serem verdadeiras máquinas de matar, de certo muitas atrocidades cometidas por esses regimes só foram possíveis através de doutrinação, no entanto, toda via, contudo esse tipo de sistema não dura mais que alguns anos já que a sua natureza anti-humano geraria revolta nas gerações mais velhas ao verem suas famílias desmanteladas. É simplesmente impossível vislumbrar essas atrocidades sem sentir ódio ou remorso.

Enfim, com um sistema tão tirânico e opressivo como esse, então como poderia nosso protagonista vencer o mal e salvar o dia? Simplesmente não salva, em sua conclusão Winston tem seu cérebro lavado terminando de forma miserável, com um final amargo sem final feliz o livro conclui que uma vez que tenhamos chegado a esse estágio não há volta. Diferente de outros fanfics para adolescentes onde o protagonista se revolta após ter sexo com uma random, se juntando a resistência e salvando o mundo do mal. Coisas assim são tão ridículas que inclusive já se tornaram material de paródias como top secret de 1984. Basicamente um alerta ao mundo em uma época de revoltas e revoluções sociais, quando o mundo ia em uma direção pró comuno-socialista. É notável alguns paralelismos do autor com a vida real, com as ditaduras de terceira posição, stalinistas e maoístas, também um certo criticismo ao imperialismo britânico. Definir Orwell politicamente é complicado já que o sujeito é considerado de esquerda ao mesmo tempo que elogiava Hitl3r, Mussolini ao mesmo tempo que criticava o imperialismo britânico e o comunismo soviético. Mesmo sendo difícil defini-lo politicamente, sem dúvidas 1984 é um livro que poderia facilmente ser definido como um livro libertário.

O que há do livro em si? O livro em si aborda e desenvolve seus temas de forma bastante inteligente em alguns pontos e caricata em outros, sinceramente algumas partes do livro eram tão unidimensionais que soava mais engraçado do que sério, os diálogos de O'Brien para Winston por exemplo. Beiram o unidimensional soando como aqueles desenhos antigos onde o vilão conta todos seus planos enquanto ri. Os personagens em si também não grande coisa e são porcamente caracterizados, ou se é que são caracterizados porque vejamos, Winston é calmo, centrado e só? Não tem nada de especial como protagonista, tirando o fato de que é um rebelde. Júlia é definida basicamente por possuir uma tensão sexual com Winston e de odiar o partido, não é um bom personagem e diria até que é medíocre. O'Brien é simplesmente um personagem caricato e está ai para explicar como funciona o partido, da forma mais antinatural possível, como se fosse um vilão unidimensional. Concluo por tanto que o livro é mais conceitual do que algo genuinamente literário já que seus personagens são planos, já como estudo político é indispensável e excelente no que lhe concerne.

escrita:6/10

Personagens principais:6/10

Personagens secundários:5/10


Importância histórica:9/10


temas desenvolvidos:7/10


nota somada: 6,6


nota final:6/10


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Mary and Max review

Posted : 2 years, 1 month ago on 16 March 2022 04:44 (A review of Mary and Max)

Mary and Max é um filme australiano independente stop motion em preto e branco que narra a história de dois personagens. Max Horowitz, um homem velho, judeu e ateu que tem síndrome de asperger. E Mary Daisy Dinkle uma jovem nascida em um bairro pobre Austrália, não muito sociável e que parece ter problemas parecidos com Max, ao ser introvertida e com nenhum amigo além de Max. Ambos se comunicam por cartas da qual relatam as coisas do dia a dia fora algumas histórias pessoais, sendo esse o ponto alto do filme ao explorar psicologicamente a mente deturpada de Max. O filme é quase inteiramente narrado cedendo espaço para algumas falas dos personagens. Em termos de animação possui um estilo bastante diferenciado das animações convencionais, sendo parecida em alguns aspectos com os filmes do Tim Burton por possuir essa atmosfera gótica e cinza. O traço cartunesco também potencializa essa atmosfera mórbida, fazendo o telespectador sentir como se estivesse em um velório ou algo do tipo.

O filme é elaborado e desenvolvido ao redor dos monólogos das cartas trocadas entre Mary e Max. Mary é uma menina solitária que tem pais ausentes e irresponsáveis. Seu pai trabalha o dia inteiro em uma fábrica de chá, já sua mãe é uma alcóolatra viciada em cigarros e programas de TV. Aqui o filme já nos introduz uma classe de mensagem sobre o abandono, sobre a falta de empatia dos pais de Mary, negligenciando sua criação tornando-a cheia de problemas de socialização e digamos até mentais. Mostrando como a negligência e a falta de amor podem afetar negativamente uma pessoa, é grotesco como Mary é constantemente humilhada e tratada mau no filme como se os diretores estivessem contra a personagem. É uma parte bastante incômoda do filme ainda mais levando em conta que Mary é uma criança. É estranho que esse filme seja classificado como comédia quando a maioria dos acontecimentos não são engraçados mas trágicos e comoventes.

Max por outro lado é representado com problemas de ordem mental, sendo um homem obeso e isolado socialmente devido a sua condição psiquiátrica. Sendo visto de forma negativa pela sociedade pelo seu jeito "literal e lógico" de ver as coisas como ele mesmo diz. Em termos de personagem está muito bem caracterizado, os roteiristas fizeram um excelente trabalho detalhando não só o personagem em si mas seu dia a dia e sobre como pensa. Sendo esse um dos aspectos mais interessantes já que abordam temas mundanos de forma que justifica e nos dá uma melhor compreensão da mente confusa do protagonista. Nos dando também uma valiosa mensagem sobre o abandono e sobre como a empatia nos torna mais humanos. Uma bonita mensagem sobre cuidar dos incapacitados, finalizando o filme de forma catártica e satisfatória com Max entendendo que as pessoas tem erros e que na vida devemos lidar com esses problemas. Mensagem que reflete diretamente em Mary finalizando o filme.

Em conclusão Mary and Max é um bom filme? Sim! sem dúvidas não é perfeito, pela pouca duração e alguns momentos grotescos que estão para punir os personagens sem razão alguma. Ainda sim carrega consigo bons valores de produção, a animação stop motion é, apesar de rara e grotesca, criativa e bem feita com personagens cartonizados acompanhados de uma trilha sonora de violino que complementa a atmosfera atípica desse filme. E o mais importante óbvio, carrega consigo uma mensagem sobre empatia e estudo de personagem único, retratando um personagem com uma doença mental que não é um serial killer ou um super gênio, mas sim abordando os problemas reais que implica essa condição. Gosto da mensagem e sinceramente há pouco o que criticar então darei a honrosa nota de 8/10.


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Swimming to Sea review

Posted : 2 years, 1 month ago on 11 March 2022 06:32 (A review of Swimming to Sea)

Padak ou swimming to sea é um filme coreano lançado em 2012 sendo um filme bem underground tendo mais reconhecimento nesses tempos através da divulgação de alguns youtubers que pintam o filme como se fosse um procurando Nemo versão low energy, com gore coisas do tipo ou um clone tal como espanta tubarões ou qualquer coisa do tipo. Felizmente Padak não é nada do tipo, é uma história independente que aborda vários temas de caráter existencial, moral e ético sendo uma joia perdida da animação oriental. O filme gira em torno de alguns peixes que são capturados, mantidos em um aquário de um restaurante coreano próximo ao mar, os peixes então são obrigados a aguardar o inevitável fim de serem transformados em comida e só, não há magia ou aventura, nem essas coisas que esperaria de um filme da Pixar ou Disney. A história gira em torno de Padak a protagonista, um peixe que tem sonhos de se libertar do aquário e retornar ao mar, temos mancha que é um peixe mais leal e sensível, temos dois peixes submissos, uma enguia sádica e cínica e claro o melhor personagem da história, o peixe ranzinza que perdeu todas as esperanças ao ter presenciado a morte de vários amigos. Todos os peixes tentam sobreviver e economizar o máximo de gordura ao mesmo tempo que podem cometer canibalismo com outros peixes.

O tom mórbido, monótono e grotesco do filme são geniais já que passa essa sensação de tristeza e calamidade que os peixes passam. Os personagens obrigados a cometer canibalismo para sobreviver é um fato que aumenta ainda mais a atmosfera grotesca do filme, o sentimento de fatalismo que caracteriza todos os peixes menos a protagonista. Também é interessante ver como esse problema é abordado no filme de maneira engenhosa utilizado como catalizador desenvolver tanto Padak como o peixe ranzinza. Padak a protagonista deseja se libertar e retornar ao mar e ser livre novamente ao mesmo tempo que sofre zombaria e repreensão dos outros peixes. O peixe ranzinza por outro lado após ter visto seus companheiros serem mortos termina entrando em um estado de apatia e fatalismo, com o filme dando pequenos fragmentos de seu passado, seu desenvolvimento como personagem é iniciado quando é confrontado por um peixe moribundo que diz que ele está tão vivo quanto ele, provocando um sentimento destrutivo e de revolta. Um sentimento de revolta que é catalisado quando presencia a morte de Padak e Mancha. Padak termina morrendo de forma grotesca e indigna, o que é uma crítica a sociedade, sobre como tratamos de forma indigna e desrespeitosa os animais, um reflexo do consumismo gerado pelas tendências de super produção.

Ao mesmo tempo o filme também nos dá uma mensagem pragmática sobre como o ciclo da vida não pode ser superado, Padak recusa-se a cometer canibalismo com os peixes para sobreviver, mas após dois dias sem comer nada, decide fugir e termina parando em um aquário onde devora peixes menores. Nos dando uma mensagem sobre como é impossível superarmos a cadeia alimentar e sobre como o nosso mundo é regido pela lógica do mais forte de uma forma justificável. A coragem de Padak inspira o peixe ranzinza se libertar não só do aquário mas de suas limitações mentais que foi-se acumulando com os traumas passados, sendo a sua conclusão a mais otimista de todos já que o peixe ranzinza prefere arriscar a sua vida do que continuar preso, mostrando um genuíno desenvolvimento de personagem. O restante dos peixes são explorados superficialmente com alguns diálogos interessantes que chegam a ser existenciais em alguns momentos, diálogos sobre se estar morto é melhor que estar condenado aquela triste situação, sobre como o mundo é regido pela lei do mais forte, sobre comodismo e traumas, alguns questionamentos sobre a liberdade, não resta dúvidas que é um filme subestimado com mensagens potentes.

É um filme perfeito para traumatizar crianças, aborda vários temas filosóficos e possui uma atmosfera mórbida que destoa das animações 3D sobre peixinhos que sempre se resumem a aventuras genéricas e que 90% são clones mau feitos de procurando Nemo. Padak é diferente e muito mais maduro do que esperava, ainda sim não é perfeito já que a animação é bastante limitada e sofrível em alguns momentos, em especial os modelos humanos que são horrorosos e travados como se fosse um jogo de playstation 2. A animação pelo menos entre os peixes é competente e mais natural e pode-se dizer até bonita comparada com os humanos. O que se sobressai de fato são os momentos em 2d que são fluídos, artísticos e simbólicos. Cabe mencionar também a trilha sonora que é bastante comovente, ressaltando a atmosfera triste do filme. No fim do dia posso concluir que Padak é um filme muito bom para os padrões atuais e apesar de parecer um filme depressivo e triste e de fato é, ainda carrega consigo uma mensagem final potente sobre renegar o comodismo e se arriscar mesmo correndo risco de ser pego, brilhante.

8/10


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O Alquimista review

Posted : 2 years, 1 month ago on 9 March 2022 01:39 (A review of O Alquimista)

O Alquimista, livro escrito por Paulo Coelho um dos escritores brasileiros mais populares, sendo reconhecido internacionalmente, em seu auge chegou a vender 200 milhões de cópias de seus livros e claro, também é lembrado por ter trabalhado na ONU e bom... Ser Mainstream e ter ligações com a ONU certamente não é um bom presságio. Paulo Coelho é conhecido por ser um escritor medíocre e tendencioso, lembrado por basicamente escrever livros autoajuda disfarçado de novela literária ao ponto de que sua figura se transformou em um meme, sempre abordando temas filosóficos e religiosos de forma bem básica e sem grande profundidade, mas será "O Alquimista" seu mais célebre livro uma cagada como os outros confirmando esse estigma de mau escritor? A verdade é que sim.

O Alquimista narra a história do pastor de ovelhas Santiago que embarca em uma viagem ao Egito após ter um sonho misterioso que gira em torno das pirâmides lendárias, durante a viagem Santiago conhece algumas pessoas entre elas um comerciante muçulmano que lhe dá abrigo e moradia enquanto está em viagem. Antes disso também se encontra com Melquisedeque, um rei antigo responsável por despertar em Santiago a vontade de ir ao Egito para entender o sonho com a pirâmide, e que também ensina Santiago sua filosofia que seria abordada ao longo do livro. No caminho Santiago conhece um jovem inglês que decide segui-lo em sua jornada no Saara se apaixonando por uma habitante do local chamada Fátima. Fátima impõe que o jovem inglês consiga realizar sua "lenda pessoal" termo recorrente no livro e que foi explicado por Melquisedeque como a busca pelos próprios sonhos. Melquisedeque também explica que quando se quer algo, todo o universo conspira para que esse algo aconteça e seus sonhos sejam realizados, sendo esse o tema central do livro que é tratado de forma bem gospel pelo otimismo histriônico do autor. O tema de seguir seus sonhos em busca da lenda pessoal é interessante em papel porque nos dá uma perspectiva que desafia o comodismo, indo por uma linha de que devemos nos arriscar e tentar mesmo que não saia como queremos, soa bonito em papel mas em execução é só ok. O restante dos temas é tratado de forma de bem superficial então não cabe menção.

Outro problema com esse livro são seus personagens que são planos e sem muita caracterização, Santiago por exemplo me parece muito estranho já que a sua personalidade não é muito bem explicada e me parece que o livro quer introduzir temas abstratos todo momento como se fosse uma parte da bíblia, coisas que parecem não conectar. Fora de Santiago temos o jovem inglês, Fátima e o Alquimista que basicamente surge do nada e literalmente explica para Santiago as respostas para as suas dúvidas, é forçado anticlimático e fora de lugar. Um outro aspecto que me causou curiosidade é essa filosofia de que todos estamos ligados ao planeta e que somos nós somado aos seres vivos em geral que damos vida ao mundo, uma mensagem correta mas que também carece de muita explicação. De forma que "O Alquimista" é um livro ruim e falha nas suas premissas de tentar abordar temas filosóficos, não é porque uma série ou livro tem temas filosóficos que seja algo bom. Não adianta tentar colocar temas transcendentais e metafísicos se seus personagens são básicos ou ruins, se a construção de mundo ou world building é algo seco e sem profundidade. Posso concluir também que a mensagem central do livro é ruim porque supõe que Deus ou alguma força sobrenatural sempre conspira para te ajudar, onde estava essa força sobrenatural nos diversos desastres naturais, guerras, doenças e etc para ajudar as pessoas? Não sei e sinceramente não creio que haja uma resposta que não caia em algo partidário e dogmático. Não querendo bancar o ateu, jamais, mas a verdade é que depende do próprio ser individual decidir por esforço próprio lograr seus sonhos e não esperar uma profecia ou que algo ocorra, pelo menos isso o livro fez bem.

4/10


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Animal Farm review

Posted : 2 years, 2 months ago on 7 March 2022 02:19 (A review of Animal Farm)

animal farm ou revolução dos bichos é um livro escrito em 1945 pelo romancista anglo George Orwell responsável por obras como 1984 e narra de forma satírica uma revolução que ocorre entre os animais de uma fazenda inglesa onde reivindicam os direitos sobre os meios de produção. Cabe deixar claro que esse livro é uma sátira sobre um período específico da história, ou seja, a revolução russa que foi levada a cabo por Vladmir Lenin, organizada por Leon Trotsky e governada com mão de ferro por Joseph Stalin, o livro é uma crítica ácida ao socialismo e toda essa ideia de igualitarismo que estava na moda nos anos 30 e 40. Também vejo necessário explicar que os personagens principais são paralelismos com personagens reais, bola de neve é uma analogia a Leon Trotsky, Napoleão a Stalin e John seria uma espécie de Czar ou algo figurativo que representa o capitalismo.

A história se inicia quando um porco já envelhecido começa a discursar para os outros animais sobre como os seres humanos roubam e matam os animais a sangue frio sem se importar e sobre como os recursos deles são roubados e usados pelos humanos para satisfaze-los. Essa primeira parte do livro já nos dá uma pequena reflexão de como se dá algumas revoluções, com esses discursos de ressentimento histórico e de exploração, algo que chega no íntimo de qualquer pessoa, os porcos começam inflamando os animais com discursos que apelam ao identitarismo e a velha luta de classes satanizando a burguesia, burguesia essa que está perfeitamente representada como um velho bêbado e sonolento incapaz d
e olhar ao redor sobre o que está passando, sendo John um fazendeiro senil e frustrado. Uma das coisas que Orwell esqueceu de mencionar é que essas revoluções não ocorreram do dia para a noite e que receberam apoio financeiro, hoje em dia sabemos que milionários de Wallstreet financiaram a revolução bolchevique, sim capitalistas financiaram a revolução comunista, não mencionarei minhas especulações porque aqui há uma linha vermelha sobre o que se pode falar e não quero cruza-la.

Ainda nas primeiras partes do livro o ancião porco morre e eis que surge Bola de Neve que como já mencionei é uma analogia a Leon Trotsky que durante a guerra civil organizou o exército vermelho(bolcheviques) contra o exército branco(mencheviques) que em suma eram os sociais democratas da época, algo como um PSBB versus PT no qual sabemos que são a mesma coisa. Nesse contexto Bola de Neve é quem organiza toda a revolução entre os animais jogando-os contra os humanos, criando lemas, músicas e lutando em batalhas contra humanos se consagrando como um heroi, um libertador de seu próprio povo, a piada consiste que tão cedo toma o poder da fazenda a converte em um sistema igualitário onde sua classe(a classe dos porcos) é privilegiada contradizendo a afirmação anterior justificando que por ser um animal pensante e nascido para liderar justificaria sua posição como favorecido, a esquerda justifica a existência de ditadores como Stalin como um estágio da revolução e que na utopia perfeita não haveria necessidade deles já que todos os seres humanos magicamente com o poder do amor renegariam sua natureza competitiva e a terra se tornaria um paraíso, todos sabemos que na prática o resultado disso foram massacres, genocídios, fome e miséria generalizada. Talvez a frase que exemplifica perfeitamente o que penso sobre o comunismo e essas ideologias igualitárias é "nossa luta é contra o gênero humano" uma luta contra a própria essência do ser humano como um ser competitivo, egoísta que visa o bem de si e dos seus, essa realidade se reflete em todos os lugares possíveis até mesmo em ditaduras comunistas ou acham que as filhas de Stalin passavam fome junto aos russos? E se querem saber não sou contra essas ideias de preservar o próprio grupo ou família, estou cansado de ouvir bobagens do tipo "ain ele só favorece a própria família" essa gente que diz isso não é capaz de entender o que é uma aliança grupal, vínculos e vontade de crescer, estão tão contaminadas por um discurso falso de puritanismo que são incapazes de notar o óbvio.

Bola de neve institui que todos os animais devem produzir X grãos e comida, mas quando percebem que são incapazes de arar terra, plantar ou sequer colher frutas se dão conta da importância dos humanos, algo que é contornado de forma bem precária, aqui está outro ponto do comunismo que fracassa já que se todos somos iguais não tem porque haver engenheiros, pedreiros ou ninguém para produzir papel higiênico é então que a farsa desse sistema se revela, todo regime igualitário termina em totalitarismo e em miséria, no caso do livro não é exceção e para conter a falência da revolução bola de neve logra criar um sistema baseado na propaganda do medo, o mesmo discurso de "se o fazendeiro voltar vai ser pior" é a mesma coisa que os vermelhos diziam "você quer que o capitalismo volte?" talvez o mais tristes desses sistemas é que prometem livrar o trabalhador dos sofrimentos do capitalismo(que são reais) mas acabam prendendo-os em um sistema ainda mais exaustivo e tirânico, é o mesmo caso da união soviética que escravizava sua população nativa para produzir mais alimentos, o mesmo se deu na China, Camboja, Cuba e a lista segue. Outro artifício que Bola de Neve usa é doutrinar as pessoas com discursos cada vez mais e mais simplistas para chegar aos animais burros que careciam de estudo, o livro também ilustra que alguns animais utilizam das liberdades coletivas para oprimir e abusar de animais indefesos e nesse ritmo todo um estado burocrático e autoritário vai surgindo.

O livro prossegue com Napoleão, um porco que representa Stalin que consegue subir ao poder através de cargos e por pertencer a burocracia do Estado, enquanto que Bola de Neve é visto como um heroi de guerra que de fato possuía méritos, Napoleão por outro lado era um acomodado e não tinha nenhum mérito além de administrar a revolução, o cenário muda quando Bola de Neve decide construir um cata-vento para fortalecer a fazenda, no entanto ele recebe a oposição de Napoleão que sem mais decide retira-lo do poder tornando Bola de Neve um criminoso político expulsando-o com a ajuda de seus cachorros(os militares) algo verídico historicamente já que Trotsky foi expulso da União Soviética se refugiando no México e morrendo em 1940 a mando do próprio Stalin, de certa forma Bola de Neve(Trotsky) é um personagem trágico já que lutou e ajudou a fundar um regime que foi responsável pelo seu fim, terminou sendo morto pelo monstro que ele mesmo criou, bastante irônico mas comum nesses tipos de revolução, um exemplo disso é Robespierre que dirigia a revolução francesa até ser morto pelos próprios revolucionários. Não há nenhuma surpresa em revolucionários matando uns aos outros, Stalin cansou de executar e matar seus ministros e militares próximos quando notava a mínima dúvida ou discordância. O que se sucede depois da deposição de Bola de Neve é a consumação do totalitarismo de Napoleão onde esse impõe a seu povo um sistema onde qualquer opositor era assassinado na frente de todos, é triste ler e saber que isso ocorreu no mundo, toda essa matança desnecessária apenas porque um tirano louco sofria de paranoia, os animais que antes apoiavam e viam a revolução como a salvação agora temiam ser mortos pelos cães de Napoleão que engordava enquanto o restante dos bichos se enfraquecia.

A propaganda de Napoleão tenta pintar Bola de Neve um heroi de guerra como um traidor da revolução, colocando-o como um fantasma responsável por tudo, uma tática bem comum dos comunistas do mundo real que se resume a apagar e reescrever a história para os seus interesses, figuras históricas, acontecimentos, músicas e a própria identidade do povo pode ser apagada se for para benefício da revolução mesmo que essa história seja a própria história da revolução, algo similar ocorreu no Brasil com a esquerda rescrevendo a história do regime militar. Instaurada a ditadura de Napoleão temos sua guarda pessoal, sua máquina de propaganda que o pinta como um messias ressaltando-o a cada segundo como um salvador dando-lhe nomes como "pai dos bichos" "amigo dos animais" bem similar com um certo sujeito russo no? Com a exploração e escravidão sofria por Napoleão os animais começam a se questionar se suas ações são mesmo para o bem dos animais, todo esse sentimento de injustiça foi esquecido quando os humanos decidem invadir a fazenda e massacrar vários animais incitando o ódio nos animais fazendo-os esquecer do que Napoleão estava fazendo, basicamente uma analogia a invasão alemã no período da segunda guerra mundial, os animais se juntam e combatem bravamente os humanos e vencem, Napoleão enxerga nesse ocorrido a oportunidade de recuperar sua reputação e utiliza fortemente da propaganda para sua autoimagem, os animais porém percebem que não havia vitória alguma, tinham perdido boa parte da fazenda, os animais foram massivamente massacrados e todos estavam com fome enquanto havia um porco comunista se gabando por vencer uma luta que ele nem sequer lutou. O sentimento de indignação tomou os animais mas não podiam fazer nada já que estavam presos no regime e não sabiam para onde ir ou que viria depois de derruba-lo, é quando os humanos desistem de atacar os animais e decide reconhece-los sentando-se a mesa com Napoleão para negociar a paz com os animais. Basicamente o que sai disso é a negociação entre os humanos e Napoleão, basicamente abre mão de sua revolução por interesses econômicos, lembrando que esse livro foi escrito em 1945 décadas antes da União Soviética ser dissolvida.

Assim posso concluir que Animal Farm é um bom livro? Como estudo histórico e sociológico é perfeito, exemplifica de forma simples como essas ditaduras se instalam e sobre seus métodos de controle da população, como obra artística separada é apenas decente já que grande parte dos personagens são mais ferramentas do que personagens em si, ainda sim considero Snowball e Napoleão bons personagens. Esse livro serve de alerta para essas ideologias igualitárias que estão tão populares hoje em dia, é um deve coletivo da sociedade impedir que essas ideias tomem força e subvertam a ordem social, lembrando que uma vez dentro desses regimes você só sai morto ou refugiado, se der a sorte de não ser fuzilado pelos cães do grande irmão. Sobre os idiotas que defendem essas ideias não há o que fazer, apenas quando a bota do regime esmagar suas faces é que sentirão o que sofreu o povo ucraniano, cambojano, chinês, russo e cubano.

7/10


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Final Fantasy VII review

Posted : 2 years, 2 months ago on 4 March 2022 11:58 (A review of Final Fantasy VII)

Final Fantasy 7 é uma sequela independente criada pela square enix e basicamente é o final fantasy mais popular de todos, não só por possuir personagens bem caracterizados como por possuir um mundo que mescla fantasia e ficção científica, para sua construção de mundo é boa, e possui implicações interessantes como uma mega empresa metacapitalista dominando e subjugando toda a raça humana ao mesmo tempo que temos uma raça alien e um ser super poderoso, um cenário distópico bem diferente de todos os final fantasy até aqui. Não é totalmente sci fi já que tem elementos mágicos, gostei que aqui o vilão tem uma motivação real em vez de ter sido possuído por algum demônio ou criatura maligna e é baseado em um ressentimento ao acreditar que sua raça foi traída pelos humanos provocando uma vingança que levaria toda a história a um rumo mais interessante, tanto Sephiroth como Cloud são personagens bem justificados e interessantes, geralmente detesto tramas com amnésia porque tiram toda a caracterização do personagem reduzindo-o a um saco vazio carente de personalidade, Cloud por outro lado tem personalidade e todo seu drama gira em torno de estar com as memórias e personalidade de seu parceiro Zack Fair carregando consigo as mágoas e frustrações de sua antiga personalidade.

As organizações em Final Fantasy 7 são bastante interessantes, Shinra por exemplo é uma Nerv da vida que tem planos secretos, projetos e está por trás de diversos crimes e por raptar a alma de várias pessoas, basicamente sendo governada por Elon Musk e Bill Ga... Outro grupo interessante é Avalanche o grupo dos protagonistas que está cheio de personagens interessantes mas não tão bem explorados como o protagonista, sendo eco-terroristas a história tenta dar ares mais cinzentos ao conflito já que a avalanche tem ideias a lá Ted Kaczynsky e serve para reforçar a mensagem ecológica do jogo, porque afinal Final Fantasy 7 é sobre isso, ecologia mesclados com temas interessantes sobre a identidade, , racialismo, futurismo e etc, mensagem da qual não sou contra já que nosso mundo está caminhando a passos largos para o mesmo cenário da história.

O filme Advent Children só pode ser visto por quem jogou ou sabe da história previamente, como obra isolada seria injusto critica-la e seria o mesmo que criticar the end of evangelion isolado do anime, em advent Children Cloud é mais quieto e menos ativo sendo mais uma ferramenta, Sephiroth retorna em outro personagem. O filme não é grande coisa, possui um cgi que reluz bonito e bem renderizado ao mesmo tempo que os personagens ainda possuem um rosto de boneco, as coreografias das lutas são excelentes e o design é badass ao invéz de poligonal e cartoon. Tirando detalhes técnicos é mais um filme para concluir e encerrar o arco de Cloud que finalmente aceita sua personalidade mais introvertida e claro para finalizar Sephirot e os outros personagens, é divertido mas não o suficiente para dar uma nota maior que 7/10, quanto ao jogo é facilmente um 8/10 e sem dúvidas o melhor que a franquia já produziu.


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